

Não! O asfalto do traçado de Monte Carlo e do Indianapolis Motor Speedway não têm buracos. Apesar de ser composto pelas ruas utilizadas pelo trânsito normal do Principado, o chão do circuito mais famoso do mundo é perfeito para a prova da Fórmula-1. Na cobertura das 500 Milhas de 2002, pode-se observar que o piso de Indianápolis é uma mesa de bilhar, de tão liso. Os buracos negros das duas pistas são as armadilhas para os pilotos.
No domingo passado, as duas tradicionais competições da Tríplice Coroa do Automobilismo – a terceira são as 24 Horas de Le Mans - foram realizadas, no mesmo dia. Pela manhã para o Brasil, vimos a segunda vitória do inglês Lewis Hamilton, da Mercedes, no GP de Mônaco, superando o favorito e pole position Daniel Ricciardo pela inegável habilidade do tricampeão e pela desastrada troca de pneus feita pela equipe Red Bull no carro do australiano.
Pela tarde, depois de mais de três horas e um espetáculo anterior à corrida promovido como só mesmo os norte-americanos sabem fazer, o piloto local Alexander Rossi, ex-F-1, da equipe Marussia, surpreendeu a todos e conquistou a vitória se utilizando de uma tática agressiva e arriscada. O piloto californiano de 25 anos, novato nas 500 Milhas de Indianápolis, completou as 200 voltas da prova e ficou sem combustível em seguida.
As duas corridas são disputadas desde o início do Século 20. Tendo basicamente o mesmo traçado da primeira edição, em 1929, o GP de Mônaco tem a mesma grande armadilha desde o começo de sua história. Embora o risco mais crítico já tenha sido o Mediterrâneo – sim, nos primeiros anos, sem proteção no porto, os carros eventualmente caíam no mar -, o segredo para se andar bem nas ruas de Monte Carlo com um F-1 é passar todo o tempo de quase duas horas de corrida muito próximo dos guard-rails.
Na prática, nenhum piloto sabe explicar com precisão como consegue fazer isso em alta velocidade. Talvez a resposta mais precisa seja mesmo o instinto de sobrevivência de cada um deles. Com o auxílio atual da chamada supercâmara lenta da televisão, dá para perceber que na maioria das vezes os pneus passam a poucos centímetros do guard-rail. Em uma dessas passagens, o nome do momento da F-1, Max Verstappen, de apenas 18 anos, calculou mal e esfregou um pneu na cerca de proteção da saída dos S da Piscina, batendo logo depois.
Em Indianápolis, a armadilha não está em como os pilotos passam próximos dos muros. Mas também está, de forma diferente. O traçado do Indianapolis Motor Speedway, construído em 1909, em chão batido, depois, com piso de tijolos, para só a partir da década de 60 ser asfaltado, é constituído de um dos desenhos mais simples em termos de competição – quatro retas (duas maiores) ligadas por quatro cantos arredondados de 90 graus idênticos.
No entanto, é exatamente nessa simplicidade do circuito norte-americano que mora sua maior armadilha, revelada em um depoimento do bicampeão das 500 Milhas Emerson Fittipaldi (1989 e 1993). Segundo nosso Rato, "andar com médias de velocidade a cerca de 350 km/h por mais de três horas é alucinante. O muro começa a te chamar cada vez mais".
Segundo Emerson, depois de algumas voltas, especialmente se o piloto não estiver atento ao movimento de um adversário, o corredor começa a entrar em um outro plano, como se não estivesse ali. Isso vem justamente porque o circuito tem as curvas e as retais iguais, feitas em altíssima velocidade.
- Senti isto muitas vezes correndo em Indianápolis. E deu medo! – disse Emerson.
