A pergunta mais óbvia que vem por ocasião dos 30 anos da passagem do Ayrton Senna é: "Você que tem mais de 35 anos, o que estava fazendo exatamente às 9h10min daquela manhã ensolarada em Porto Alegre, exatamente no momento em que a Williams de número 2 batia no muro da curva Tamburello de Ímola?" Eu estava de folga no jornal Zero Hora naquele dia e estava assistindo à corrida naquele 1 de maio de 1994 ao lado do meu filho Gabriel, que tinha oito anos à época. Quando o Senna mexeu com a cabeça dentro do carro, pensei: "Ele morreu". Naquele momento, fui acometido de uma angústia tão grande que não consegui mais ficar vendo a televisão. Claro que acompanhei as imagens até o helicóptero com ele dentro subir do circuito de Ímola rumo ao hospital de Maggiore, em Bolonha.
Em seguida, peguei um rádio portátil, o Gabriel e a mãe dele, a Adriana, e saímos a caminhar por Porto Alegre, sem rumo. Pouco além do meio-dia – em pleno parque da Redenção, em Porto Alegre, e confesso que não sei como eu tinha chegado lá -, ouvi pelo rádio a confirmação da morte cerebral do Ayrton. Imediatamente, coloquei os dois em um taxi para leva-los de volta para casa e rumei para a Zero Hora, a pé, porque sabia que o jornal faria uma cobertura especial sobre tudo aquilo. Cheguei lá e a redação já estava cheia de gente. Resumindo, trabalhei durante todo aquele dia chorando, sem parar.
Entre tantas coisas, o Senna mudou o motivo do feriado de primeiro de maio. O dia não é mais dedicado ao trabalhador, é o dia da morte de Senna. Ainda hoje – e sei que me perguntarão sobre isso para o resto da vida -, me perguntam se o Ayrton Senna é o maior piloto de todos os tempos. Minha resposta é sempre uma: "Não coloco o Senna neste tipo de comparação ou escolha, porque ele é de outro planeta, de outro mundo". O Senna está muito acima disto! E notem que eu uso o verbo no presente. Porque ele sempre estará presente, nos 30 anos, nos 50 anos, nos cem anos, para sempre!