
O Sir Francis Owen Garbatt Williams, ou simplesmente Frank Williams, morreu neste domingo “tranquilamente, enquanto dormia, ao lado de seus familiares” aos 79 anos de idade. A família não revelou as causas da morte. Frank Williams é um dos maiores nomes da Fórmula-1, tendo fundado uma das três equipes mais tradicionais da categoria, a Williams. As outras duas são a Ferrari e a McLaren, já que a Mercedes tem uma história completamente distinta (estava no início do Mundial, em 1950, mas voltou só em 2010, e a Red Bull é uma das jovens do grid. A história de Frank Williams na F-1 é muito rica. Quando comecei a assistir às corridas ao vivo, em 1972, o inglês tentava colocar seus carros na pista a duras penas. Não existia dinheiro para nada.
Frank foi levando a coisa aos “pontapés”, literalmente mendigando trocados para todo mundo, até que em 1977 se associou aos ricaços sauditas (mais precisamente, à família Bin Laden, o lado não bandido da turma) e transformou tudo. Ao lado do amigo Patrick Head, fundou oficialmente a Williams, fez um carro que era uma cópia descarada da Lotus campeã de 1978, com o ítalo-americano Mario Andretti, chamou o australiano Alan Jones e venceu o campeonato de 1980. Voltaria a repetir a dose em 1982, com o finlandês Keke Rosberg, com apenas uma vitória no ano, mas com uma regularidade impressionante.
Quando já era um dos grandes nomes da F-1, Frank sofreu um terrível acidente na estrada que liga o circuito de Paul Ricard a Marselha, na França, em março de 1986. O carro dirigido por Frank capotou várias vezes, deixando o inglês em estado crítico e paraplégico, para sempre. Esse fato mudou a vida de Frank e de Nelson Piquet em 1986. Já bicampeão, Piquet foi contratado por Frank no final de 1985 para ser o primeiro piloto da equipe, ao lado do inglês Nigel Mansell. Acontece que o posto de primeiro piloto fora prometido a Piquet só “de boca” pelo dirigente inglês.
Com um carro muito bem projetado por Head e com o motor Honda (o melhor da época), a Williams partiu para a temporada como a grande favorita. Porém, com Frank ainda no hospital, a equipe não honrou o posto de primeiro piloto de Piquet, passando a beneficiar o inglês Mansell. A temporada acabou sendo caótica para a Williams, com um piloto brigando contra o outro. Como resultado, o francês Alain Prost, que viria a ser tetracampeão pela Williams em 1993, levou o título, na última etapa do ano, na Austrália.
Frank Williams voltou ao comando da equipe na metade da temporada de 1986, em uma cadeira de rodas que o acompanharia pelo resto da vida. Quando ele chegou lá, o caos já estava armado com Piquet querendo matar Mansell e vice-versa. Ao ser perguntado por que não foi cobrar o posto prometido por Frank, Piquet disse uma das frases mais lembradas da F-1:
- Acompanhei todo o sacrifício do Frank para voltar a vida. Vendo depois ele em uma cadeira de rodas, com a mesma alegria de viver de sempre, simplesmente não pude lembrar do assunto. Meus problemas eram muito menores, e tratei de levar a briga contra o Nigel sozinho.
E Piquet acabou vencendo o Mundial no ano seguinte. Como “punição” por ter perdido um campeonato certo em 1986, a Honda retirou seus motores da Williams em 1988, passando a fornecer para a McLaren, além da Lotus. Começaria aí, uma das parcerias mais importantes da F-1, entre a McLaren e a Honda, que daria os três títulos a Ayrton Senna e colocaria a Williams em nova crise. A coisa só foi mudar na década seguinte, com uma nova parceria, com a Renault, e a contratação do mago projetista inglês Adrian Newey (atualmente, na Red Bull, depois de ter passado pela McLaren). Na nova situação, Frank chamou Mansell de volta, que acabaria sendo campeão em 1992 em carro sem concorrentes, apontado como o melhor projeto já feito na F-1, até hoje.
Frank sempre privilegiou a equipe sobre os pilotos, tanto que os poucos campeões pela equipe não demitidos ao final do ano foram Piquet, que pediu para sair, para a Lotus, e o canadense Jacques Villeneuve, em 1997, o último campeão pela equipe inglesa. Mansell foi campeão em 1992 e demitido em seguida, assim como Prost e o inglês Damon Hill, em 1996.
A Williams sempre foi muito ligada aos pilotos brasileiros. Além de Piquet e de Senna, que acabou morrendo em 1994 no seu “carro dos sonhos” – a Williams projeta por Newey -, a equipe inglesa teve ainda Antonio Pizzonia (2004 e 2005), Rubens Barrichello (2010 e 2011), Bruno Senna (2012) e Felipe Massa (2014 a 2017).
Frank e sua família estiveram no comando da Williams até 2020, quando a equipe foi vendida para o grupo de investimentos Dorilton Capital, que está tentando resgatar os dias de glória desde então.
Goodbye, Sir Frank Williams!