Verstappen dirige uma "bomba relógio" - Blog da Fórmula-1 de Daniel Dias - Dias ao Volante

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Verstappen dirige uma "bomba relógio"

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Publicado por em F-1 ·


Desde o ano passado, Max Verstappen guia um carro extremamente difícil de ser pilotado. Assim como o RB19, de 2023, o RB20 deste ano é um carro que anda sobre o "fio da navalha", e isso é mais um ponto a favor da imensa capacidade de pilotar de Verstappen, haja visto que Sergio Perez deixa o carro da Red Bull na condição do que ele realmente é: do mesmo nível dos carros da Ferrari e da McLaren. Os da Mercedes e da Aston Martin já vêm em um patamar abaixo. O RB20 de Verstappen tem conotações muito parecidas com o FW16 pilotado por Ayrton Senna na Williams em 1994. Não por acaso, o FW16 também era projetado pelo mago Adrian Newey, o melhor engenheiro da Fórmula-1 desde os anos 90.
Como é sabido, o regulamento de 1994 foi drasticamente alterado, banindo a ajuda da eletrônica, dos freios ABS e da suspensão ativa, que era a "cereja do bolo" dos carros da Williams de 1991 a 1993 e que eram chamados pelo próprio Senna de "Carros de outro planeta". Desde o primeiro dia de testes privados da Williams no circuito do Estoril, em Portugal, em 1994, Senna percebeu que o FW16 continuava muito rápido mas era absurdamente instável, quase adquirindo "vida própria" e mudando de comportamento a cada volta. Ou seja, para compensar a perda do que foi tirado dos carros para 1994, Newey foi buscar na aerodinâmica – sua especialidade, pois o cara é simplesmente engenheiro aero-espacial – as soluções para que o carro da Wiliams permanecesse rápido.
Logo depois de ter conquistado a pole position do GP do Brasil, estreia daquela temporada, Senna disse uma frase que ficou na minha cabeça: "O carro é muito rápido mas muito instável". Parecia mais um "choro" de Senna, que buscava sempre a perfeição. Não era! No filme-documentário "Senna: O Brasileiro, O Herói, O Campeão", aparece a conversa de Senna com Newey depois de o brasileiro ter feito o melhor tempo do treino oficial da sexta-feira em Ímola (naquela época, a classificação era dividida na sexta-feira e no sábado). Newey pergunta: "Como está o carro?". "Tá pior", responde Senna, com um "sorriso amarelo", e faz gestos com as mãos sobre o comportamento irregular do carro nas curvas, acompanhado do atento Newey, que anotava tudo em sua indefectível planilha, que utiliza até hoje.
Voltando para o presente. Acompanho atentamente tudo o que é mostrado e ouvido em todos os treinos livres das corridas da F-1. Verstappen passa quase o tempo todo reclamando do carro. Mas nas classificações, ele vai lá e pilota no "fio da navalha" para conseguir as poles. Não, o problema de freio na terceira volta do GP da Austrália nada tem a ver com o comportamento instável do carro. Ou tem? Pode ter sido, sim, uma consequência da instabilidade do carro. Porque a imagem do freio explodindo quando ele entrou nos boxes para desistir da corrida foi assustadora.
Verstappen está sentado em um carro extremamente difícil de ser pilotado, repito! E, talvez, a falta de sorrisos fáceis mesmo após cada vitória não seja apenas uma faceta da personalidade dele. Mais do que ninguém, Verstappen sabe que tem de pilotar sobre o "fio da navalha" para ser o mais rápido. E estar pilotando sempre "pendurado" pode cobrar um preço. Sinceramente, torço para que esse preço nunca seja cobrado.



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