
O bicampeão da Fórmula-Indy (2000 e 2001) e vencedor das 500 Milhas de Indianápolis de 2003, todos com a Penske, espécie de Ferrari norte-americana, o brasileiro Gil de Ferran está atuando de treinador do espanhol Fernando Alonso na participação do bicampeão da Fórmula-1 na lendária prova no Indianapolis Motor Speedway deste ano, prevista para 28 de maio, mesmo dia do GP de Mônaco, que Alonso não correrá, portanto.
Nascido em Paris, quando seu pai, o engenheiro Luc Ferran, trabalhava na França pela Ford, Gil, de 49 anos, é um dos maiores pilotos brasileiros no Exterior, do mesmo naipe de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Só não correu na F-1 porque caiu um temporal em Silverstone quando ele testaria com a Williams no final dos anos 80.
Como não teve nova oportunidade na época, foi tentar a sorte nos EUA, aonde mostrou todo o seu talento e uma de suas especialidades, o acerto de carro. Gil fez, sozinho, todo o desenvolvimento dos motores da Honda para a Indy. Atualmente, o brasileiro é um embaixador da fabricante japonesa nos States. E o Alonso correrá com um bólido empurrado por um motor Honda, como na McLaren.
O espanhol esteve no último fim de semana na etapa do Alabama da Indy para conhecer a equipe em que correrá nas 500 Milhas, a Andretti, e ter o primeiro contato com Gil.
- Vou fazer sua introdução ao speedway (oval longo) e suas particularidades - disse Gil.
Totalmente diferente de qualquer pista do calendário da F-1, Indianápolis tem armadilhas inimagináveis para um piloto da categoria máxima do automobilismo. As 500 Milhas têm 200 voltas no superoval de 2,5 milhas (exatamente 4 quilômetros) e uma velocidade média em torno dos 370 km/h, mas os carros ultrapassam os 400 km/h nas duas grandes retas. O piloto só acionam o freio nas entradas dos pits stops.
Alonso se diz ansioso para começa a andar em Indianápolis:
- Acho que é muito diferente. É desafiador. O nível de downforce (força aerodinâmica que empurra o carro contra o solo), o sentimento com o carro que não é simétrico na reta (os bólidos em Indianápolis têm aros da rodas do lado direito maior, para normalmente ficarem com tendência de fazer a curva para a esquerda, em última análise, são tortos), na frenagem. O tráfego, eu penso ser uma das maiores preocupações. Se eu quiser ser o piloto mais completo do mundo, ou o melhor, preciso experimentar todos os carros e técnicas de condução diferentes. Se eu quiser fazer isso, preciso ganhar. Se não for este ano, vamos correr de novo no próximo.
Sou amigo do Gil. O conheci pessoalmente na cobertura da etapa brasileira da Indy em 97, em Jacarepaguá, no Rio. Fiz uma longa entrevista com ele antes da prova, falando de tudo, inclusive da sua notória falta de sorte na época. Ao que ele me respondeu de pronto:
- Não posso pensar em falta de sorte. Se pensar assim, nem entro em um carro de competição!
Depois, entre conversas por telefone e por e-mail, nos encontramos de novo na etapa de Monterrey, no México, disputada no circuito de Parque Fundidora, em 2001. Os jornalistas brasileiros foram convidados pelo patrocinador de Tony Kanaan. Mas quando começavam os treinos de livres, eu tratava de dar uma escapada da turma e ir para junto da casamata da equipe Penske, para acompanhar o trabalho do Gil, que era o atual campeão da categoria. Ele repetiria o título naquele ano.
Assim como fiz na cobertura das 500 Milhas de Indianapolis de 2002, acompanhei todo o trabalho de desenvolvimento do carro feito pelo Gil no Parque Fundidora. E o trabalho dele era preciso, cirúrgico. Ele fazia incontáveis voltas intercaladas com paradas no box, para conversar com o seu engenheiro e os mecânicos. Ao final dos trabalhos, seu carro era sempre o mais rápido.
Como curiosidade, por estar sempre ao lado do Gil em Monterrey, pude revelar para meus colegas do Centro do país o motivo pelo qual a participação de Gil na corrida esteve ameaçada, no sábado à tarde. Depois de me divertir vendo a correria de todos atrás de informações sobre o estado do Gil, chamei-os para compartilhar a informação, pois meu jornal já tinha fechado a edição de domingo na manhã daquele sábado e eles ainda tinham de buscar notícias para as suas edições dominicais:
"Pessoal, o Gil foi vítima do Mal de Montezuma (sintomas pela ingestão da famosa comida mexicana ricamente apimentada) e está com uma forte diarreia. Mas ele já me disse que corre amanhã de qualquer jeito.
De fato, mesmo quase desidratado, Gil correu no dia seguinte, chegando em segundo, atrás do também brasileiro Cristiano da Matta, que fazia sua estreia na equipe Andretti (vejam só) naquela prova.