
Acompanhe a Coluna das segundas-feiras que escrevo para o site carioca Esporte de Fato. Lembrando sempre que sou um torcedor confesso do tetracampeão.
Embora exista de fato, o verbo "envaretar" é mais um regionalismo usado no Rio Grande do Sul, um "gauchês", que significa uma pessoa ficar braba perdendo a compostura e sair fazendo bobagens cegamente. E não é que o Sebastian Vettel conseguiu reativar o termo há muito saído de moda?
Tudo passou a ocorrer na 19ª volta do GP da Europa, no Azerbaijão, oitava etapa do Mundial de Fórmula-1, disputada no último domingo. A prova estava sob bandeira amarela, com o safety car na pista. Não se bem o porquê, mas o líder Lewis Hamilton resolveu frear sua Mercedes atrás do carro de segurança de um momento para outro. Vettel, em segundo lugar, bateu de leve na traseira do inglês e... envaretou...
Furioso, o piloto da Ferrari acelerou, colocou o carro ao lado do rival e jogou a "barata" de propósito contra adversário, em uma típica briga de trânsito. Mesmo que a freada de Hamilton tivesse sido intencional, o revide de Vettel era passível de eliminação sumária da corrida, com direito a uma pesada suspensão.
A corrida teve relargada, no entanto, com muitos detritos espalhados pelo circuito, a direção de prova resolveu interrompê-la, acionando bandeira vermelha. Retornando aos boxes, o engenheiro do carro de Vettel foi imediatamente falar com o seu piloto, chamando sua atenção pela batida incompreensível em Hamilton.
Entretanto, o olhar do tetracampeão já indicava que ele estava cego de raiva. Nesta segunda-feira, o australiano Daniel Ricciardo, vencedor da etapa de domingo e ex-companheiro de Vettel na Red Bull, revelou uma faceta do jovem alemão:
- O Sebastian é assim mesmo. Quando fica brabo, ele age sem pensar!
Quando a prova em Baku foi retomada, Hamilton e Vettel mantiveram as duas primeiras posições, com a direção da corrida analisando o incidente entre os dois protagonistas da guerra pelo título da temporada. Em seguida, a proteção da cabeça do piloto do carro do inglês começou a se soltar, forçando uma parada para trocar a peça avariada.
Foi a "salvação" dos comissários. Em uma decisão salomônica, puniram Vettel pela batida em Hamilton com uma parada forçada de 10 segundos, enquanto o inglês era "poupado" de uma sanção, pois já seria obrigado a entrar nos boxes para conserto da peça defeituosa.
A maior prova de que Vettel estava transtornado veio por uma pegunta feita para a equipe via rádio, quando veio a decisão de puni-lo:
- Vocês poderiam me explicar por que estou sendo penalizado?
Ou seja, o episódio promovido por ele não tinha ficado registrado na memória.
Infelizmente, a ferida aberta entre os dois candidatos ao título no ano não terminaria aí! Em uma corrida que, salvo os contratempos, deveria ter uma vitória tranquila de Hamilton, naquele momento estava sendo revertida para Vettel. Depois das paradas nos boxes dos dois, o ferrarista voltou à frente do rival, com grandes chances de aumentar sua liderança no Mundial.
Mas Vettel continuou seu voo cego até a bandeirada, arriscando e errando em quase todas as curvas do perigosíssimo traçado de Baku, só não saindo da pista por causa de sua invejável habilidade ao volante e pelo trabalho dobrado de seu anjo da guarda de plantão.
Vettel é um dos maiores pilotos da história da F-1 e merece a primeira colocação do campeonato. Esse é um lado da novela. O outro é bem menos edificante. Com atitudes como a de Baku, o alemão pode começar a ser marcado pelas direções de prova, manchando sua carreira, até agora, brilhante. Além disto, um piloto de Jumbo ou de F-1 não pode envaretar. Coisa feia, Vettel!